“Pai, se for possível, afasta de
mim este cálice; contudo, não seja como eu quero mas como tu queres” (Mateus
26; 39).
Jesus sabia que durante sua
flagelação e crucificação sua condição humana prevaleceria sobre sua condição
divina. Deus não morreu na Cruz! Foi Jesus, em sua condição humana que fora
crucificado. Enquanto isso o Pai já garantia sua Ressurreição no terceiro dia.
Mas mesmo diante de sua agonia
Jesus se mostrou firme em sua humildade e obediência, ciente de que o Projeto
de Deus era maior que sua própria e momentânea condição humana.
E quantas vezes nós ao nos
depararmos com situações complicadas e/ou inesperadas queremos que o cálice se
afaste de nós? Divergindo de Jesus, não confiamos no Projeto de Deus e
acreditamos que nossa limitada condição humana possa prevalecer sobre este
projeto. Sem cruz não há ressurreição: “Os meus projetos não são os projetos de
vocês, e os caminhos de vocês não são os meus caminhos - oráculo de Javé. Tanto
quanto o céu está acima da terra, assim os meus caminhos estão acima dos
caminhos de vocês, e os meus projetos estão acima dos seus projetos. Da mesma
forma como a chuva e a neve, que caem do céu e para lá não voltam sem antes
molhar a terra, tornando-a fecunda e fazendo-a germinar, a fim de produzir
semente para o semeador e alimento para quem precisa comer, assim acontece com
a minha palavra que sai de minha boca: ela não volta para mim sem efeito, sem
ter realizado o que eu quero e sem ter cumprido com sucesso a missão para a
qual eu a mandei”. (Isaías 55;8-11).
Os apóstolos de Jesus dormiam enquanto o Mestre se agoniava.
Os amigos mais íntimos de Jesus não conseguiam ajudá-lo.
E quantas vezes em nossa vida nos sentimos sozinhos, mesmo
diante de multidões que parecem estar dormindo e não percebem nosso sofrimento?
O único apóstolo de Jesus acordado é Judas Iscariotes, seu
traidor, que o entrega com um beijo: um gesto tão carinhoso e íntimo, usado
para o mal.
Quantas vezes não somos traídos por pessoas nas quais
confiávamos. E quantos gestos, símbolos e sentimentos são deturpados e usados
para o mal:
- Letras de músicas estimulando a infidelidade, a poligamia,
o adultério: o que deveria ser arte profanada e usada para deturpar valores
humanos e religiosos.
- Beleza de corpos usados para vulgaridade e pornografia: a beleza
transformada em objeto descartável de uma falsa sensação de satisfação.
“Nesse momento, um dos que
estavam com Jesus estendeu a mão, puxou da espada, e feriu o empregado do sumo
sacerdote, cortando-lhe a orelha. Jesus, porém, lhe disse: ‘Guarde a espada na
bainha. Pois todos os que usam a espada, pela espada morrerão. Ou você pensa
que eu não poderia pedir socorro ao meu Pai? Ele me mandaria logo mais de doze
legiões de anjos. E, então, como se cumpririam as Escrituras, que dizem que
isso deve acontecer?’ (Mateus 26; 51-54)
Jesus reafirma sua confiança em
Deus. Mesmo diante de sua iminente morte não usurpou o projeto de Deus pedindo
um socorro que seria uma solução imediatista, mas que atrapalharia todo o
projeto divino da Salvação. E mesmo diante das circunstâncias adversas renega a
violência, conforme em toda sua vida e pregação: não cai em contradição por
saber que o projeto de Deus é maior.
Quantas vezes queremos um socorro
imediato que só piora a situação à longo prazo? E será que não caímos em
contradição com nosso discurso com nossas ações e omissões em situações
adversas?
Conforme nos atesta São Paulo em
sua carta aos Filipenses:
“Jesus Cristo, existindo em
condição divina, não faz do ser igual a Deus uma usurpação. Pelo contrário,
esvaziou-Se a Si mesmo assumindo a condição de escravo e tornando-Se igual aos
homens Assim, apresentando-se como simples homem, humilhou-se a si mesmo,
tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz! Por isso, Deus o exaltou
grandemente, e lhe deu o nome que está acima de qualquer outro nome; para que,
ao nome de Jesus, se dobre todo joelho no céu, na terra e sob a terra; e toda
língua confesse
que Jesus Cristo é o Senhor, para
a glória de Deus Pai.” (Filipenses 2, 6-11)
Aprendemos pois, com Cristo, a
confiar no projeto de Deus, não buscando soluções imediatistas que colocam
nosso conforto em primeiro lugar; saíamos deste egocentrismo baseado no nosso
limitado pensamento humano, aceitemos nossa cruz e aguardemos nossa
Ressurreição para confirmação do Projeto de Deus e para Glória de Seu Nome, não
pro nosso merecimento, mas pela sua infinita misericórdia.
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